Nas
últimas semanas a caminho do trabalho sempre vejo um jovem casal
dormindo
sob
a cobertura de uma banca de revista desocupada. Quando não estão os
dois dormindo, um está sentado, olhando os carros que passam
enquanto fuma um cigarro
Hoje,
o cenário foi diferente: além do casal, que dormia embaixo de uma
tenda feita com lençóis, havia um menininho de cabelos cacheados,
com uns 4 anos de idade. Ele estava encostado na banca, em pé
olhando para rua. Acenou para alguém que estava no ônibus e
voltou-se para a tenda onde provavelmente dormiam seus pais.
Me
deu uma dor no coração... começou a passar um filme na minha
cabeça. Poucas horas antes, minha Flor havia acordado no seu quarto,
entre seus lençóis quentinhos, com muitos beijos e palavras
carinhosas. Tomou seu leite e ficou brincando até a hora de mamis
sair para ir trabalhar.
E
aquele menininho, hein??!! Provavelmente acordou antes dos pais, sem
um bom dia, sem um beijo e sem nada pra comer; sem ter o que fazer,
foi pra calçada ver os carros passarem... Tão pequeno minha
gente...
Sei
que esta cena é "normal"; que existem outras milhares de
crianças em situações similares ou ainda piores, mas é
impossível, principalmente após me tornar mãe, ver esse tipo de
situação e não me sentir extremamente mal.
E
sobre esse assunto, Clarisse Lispector tem um poema super forte e
comovente:
A
fome
A
fome não dorme
nem
deixa dormir o menino
cuja
mãe também não dorme
com
suas barrigas famintas
Ele
arrisca dizer "tenho fome"
e
com carinho a chama "mamãe"
ela
responde serena
"dorme,
querido, dorme"
Mas
a fome é insistente
devora-os
por dentro
o
menino repete o pedido
e
a mãe o seu apelo
Mas
ao novo pedido do filho
gritam
a dor e o desespero
"dorme,
menino chato"
e
ele silencia, em seu medo.
No
cansaço da inanição
na
fraqueza das fraquezas
dormem
o sono dos injustiçados:
barriga
vazia, coração em dor
Seus
sofrimentos não ecoam
na
próxima noite será tudo igual
porque
a fome não dorme nunca
não
cochila, não descansa
E
enquanto a fome não dorme
é
triste ver gente à mingua
à
espreita da certeira morte
sonhando
com um prato de comida...
Aí
a gente fica pensando no futuro dessas crianças, e vê tudo de forma
muito incerta. Sei que filhos bem criados, muitas vezes desviam-se e
cometem erros graves e com consequências duras pra si próprios e
para a família como um todo, sei bem disso... Imagina então uma
criança que é negligenciada em todas as suas necessidades!?
Não sou uma estudiosa da área, apesar de ter tido contato em algum momento do meu curso com assuntos ligados a criminologia , não sei se há algo de hereditário que determine a conduta moral de uma pessoa, nem muito menos listar as causas que levam as pessoas a terem desvios nesta conduta, mas acredito que uma boa criação ajuda bastante. Filhos que são bem educados, que aprendem a ter limites e que além disso recebem amor e apoio vida afora, têm grandes probabilidades de crescerem sadios nos sentidos mais amplos, concorda?
Não sou uma estudiosa da área, apesar de ter tido contato em algum momento do meu curso com assuntos ligados a criminologia , não sei se há algo de hereditário que determine a conduta moral de uma pessoa, nem muito menos listar as causas que levam as pessoas a terem desvios nesta conduta, mas acredito que uma boa criação ajuda bastante. Filhos que são bem educados, que aprendem a ter limites e que além disso recebem amor e apoio vida afora, têm grandes probabilidades de crescerem sadios nos sentidos mais amplos, concorda?
Não
vou levantar nomes de possíveis responsáveis, até porque me falta
conhecimento aprofundado para tal, mas sem dúvida nosso país peca
nos quesitos educação, saúde e segurança. Sem falar nas questões
estruturais da nossa sociedade.
Sei
não... essa postagem foi mais um desabafo; uma forma de colocar pra
fora um sentimento ruim que ficou em mim desde a hora que vi aquela
criancinha ali tão "sozinha" e desamparada. E dizer pra
cada um de vocês, sejam pais ou não, que nunca esqueçam de pedir
por aquelas crianças... por todas as nossas crianças.
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